
Por: Teresa Alves
Primeira Leitura: Sabedoria 18:6-9
Salmo: Salmo 32(33): 1 e 12,18-19,20-22
Segunda Leitura: Hebreus 11: 1-2, 8-19
Evangelho: S. Lucas 12: 32-48
Neste Domingo continua a reflexão sobre alguns dos ensinamentos de Jesus acerca da riqueza e da esmola, bem como sobre a necessidade de estar preparados para a Sua segunda vinda: a parousía, que é a palavra grega usada para designar a vinda de Jesus no momento do juízo final.
O Evangelho de hoje diz:
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não temas, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o reino. Vendei o que possuís e dai-o em esmola. Fazei bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável nos Céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração. Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que esperam o seu senhor ao voltar do casamento, para lhe abrirem logo a porta, quando chegar e bater. Felizes esses servos, que o senhor, ao chegar, encontrar vigilantes. Em verdade vos digo: cingir-se-á e mandará que se sentem à mesa e, passando diante deles, os servirá. Se vier à meia-noite ou de madrugada, felizes serão se assim os encontrar. Compreendei isto: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não o deixaria arrombar a sua casa. Estai vós também preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do homem». Disse Pedro a Jesus: «Senhor, é para nós que dizes esta parábola, ou também para todos os outros?». O Senhor respondeu: «Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor estabelecerá à frente da sua casa, para dar devidamente a cada um a sua ração de trigo? Feliz o servo a quem o senhor, ao chegar, encontrar assim ocupado. Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens. Mas se aquele servo disser consigo mesmo: ‘O meu senhor, tarda em vir’, e começar a bater em servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele servo chegará no dia em que menos espera e a horas que ele não sabe; ele o expulsará e fará que tenha a sorte dos infiéis. O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou ou não cumpriu a sua vontade, levará muitas vergastadas. Aquele, porém, que, sem a conhecer, tenha feito acções que mereçam vergastadas, levará apenas algumas. A quem muito foi dado, muito será exigido; a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá»
A frase de abertura é exclusiva do Evangelho de S. Lucas: “Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino...” e ecoa o Evangelho de São João, quando Jesus Se apresenta como o Bom Pastor e os discípulos como o Seu rebanho.
No entanto, aqui, ao mencionar um “pequenino rebanho” parece evocar a imagem de um “remanescente” referido pelos profetas do Antigo Testamento. Por exemplo, em Jeremias 23:3, lemos “Reunirei o que restar das minhas ovelhas espalhadas pelas terras em que as exilei, e fá-las-ei voltar às suas pastagens, onde crescerão e se multiplicarão”, sugerindo que, no tempo da salvação futura, apenas um pequeno número – um remanescente de Israel – será fiel e obediente a Deus. Ao utilizar esta expressão, Jesus está a identificar os Seus discípulos como esse pequeno e justo grupo de Israel. Escolhe doze apóstolos para liderar esse grupo. Estes representam um novo Israel e evocam as doze tribos do Antigo Testamento. Por isso diz-lhes: “Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino.” De facto, este dom gratuito do Reino de Deus não se compra nem se conquista, é uma herança oferecida aos que confiam no Pai.
Um segundo aspecto que importa aqui focar tem que ver com a esmola. Jesus diz aos Seus discípulos: “Vendei os vossos bens e dai-os de esmola. Arranjai bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável no Céu, onde o ladrão não chega e a traça não rói.” Ora, que quer Jesus dizer com “vender os vossos bens e dar esmola”? A palavra grega para esmola é eleēmosynē. Deriva de eleos, que significa misericórdia, uma palavra que conhecemos da Missa quando rezamos: Kyrie eleison. Eleos é o substantivo “misericórdia” e Kyrie eleison significa, como sabemos, “Senhor, tende misericórdia.” Portanto, embora a palavra seja traduzida para português como “esmola”, esta tem como raiz a palavra grega para misericórdia. Literalmente, o que Jesus está a dizer é: pratica a misericórdia.
No tempo de Jesus, as pessoas transportavam o dinheiro em bolsas e guardavam os seus tesouros em casa. Se alguém entrasse nessa casa, podia levar tudo o que lá estivesse, desde que encontrasse o cofre ou baú com o pequeno ou grande tesouro e estivesse disposta a roubar. Mas Jesus diz: “Arranjai bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável no Céu, onde o ladrão não chega e a traça não rói. Porque, onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. Ou seja, Jesus convida-nos a trocar as moedas que enferrujam, as bolsas que a traça corrói, as carteiras que se rasgam e os apegos materiais que aprisionam o coração, por obras que brilham mesmo na escuridão. O verdadeiro tesouro não está nas coisas materiais que acumulamos, mas antes na misericórdia para com os mais pobres, na partilha generosa, no desprendimento sincero e na confiança plena em Deus. Note-se como este ensinamento não é uma mera advertência contra o materialismo, mas antes e sobretudo uma verdadeira reorientação – uma conversão – do coração. Jesus chama-nos a atenção para como o lugar onde colocamos o nosso tesouro – i.e. aquilo que mais estimamos – determina a direcção da nossa vida espiritual. Neste sentido, a verdadeira pobreza evangélica não é apenas renúncia, mas liberdade para amar, para esperar e para servir.
É por isto que Jesus nos diz, com ternura e autoridade: coloca o teu tesouro, não na Terra, mas no Céu; porque, como Ele próprio afirma, “onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração”.
De seguida, o Senhor conta duas parábolas que aprofundam e concretizam este ensinamento. A primeira é a dos servos vigilantes, a quem se pede que estejam com os rins cingidos e lâmpada acesa, preparados para a chegada inesperada do senhor da casa (Lc 12:35-40). Note-se como tal vigilância não é passiva, mas sim activa, quer dizer, um estado de prontidão amorosa, de expectativa fiel. O Catecismo da Igreja Católica interpreta esta vigilância como uma atitude essencial do cristão, que vive na esperança da vinda de Cristo: “Vigiando, orando e trabalhando, o discípulo permanece fiel ao amor do Senhor”1. E, de facto, esta vigilância requer um coração desprendido e orientado para o alto: precisamente o mesmo coração que Jesus nos convida a formar quando nos fala do verdadeiro tesouro, onde o ladrão não chega nem a traça rói.
Os servos estão acordados, de “rins cingidos e as lâmpadas acesas”. Cingir-se exprime a condição de usar uma faixa – ou cinto – ajustando a túnica, de modo a estar pronto para agir, caminhar ou mesmo correr. Quer dizer, significa prontidão para o serviço. Por outro lado, manter a lâmpada acesa é sinal de vigilância, de tal modo que, quando o senhor chega de noite, se tenha luz para ver o caminho.
O Papa Bento XVI comenta a passagem afirmando que esta “convida os cristãos a desapegarem-se dos bens materiais em grande parte ilusórios, e a cumprirem fielmente o próprio dever com uma constante propensão para o Alto. O crente permanece alerta e vigilante a fim de estar pronto para receber Jesus quando Ele vier na sua glória. Através de exemplos tirados da vida quotidiana, o Senhor exorta os seus discípulos, isto é, a nós, a viver nesta disposição interior, como aqueles servos da parábola que estão à espera do regresso do seu dono. «Felizes aqueles servos, diz Ele, que o Senhor, quando vier, encontrar vigilantes». Devemos, portanto, vigiar, rezando e praticando o bem.”
No entanto, de seguida, no Evangelho, surge um elemento verdadeiramente inesperado: Jesus afirma que, ao regressar, o senhor, em vez de ser servido, cingir-se-á ele próprio, fará os servos sentar-se à mesa e virá servi-los. Este gesto, impensável na cultura da Antiguidade, remete directamente para a cena do lava-pés no Evangelho segundo São João (Jo 13), onde Jesus, durante a Última Ceia, se cinge com uma toalha, à maneira de um escravo, e lava os pés dos seus discípulos.
Na sociedade judaica e romana daquele tempo, era o servo quem se cingia e lavava os pés do senhor quando este regressava a casa. Aqui, Jesus inverte os papéis: o Senhor torna-se servo. Esta inversão radical não é apenas uma lição de humildade, mas a revelação da lógica do Reino de Deus, onde o maior é aquele que serve (Mt 23:11). S. Gregório de Nissa enfatiza que Cristo assume a condição de servo para que nós mesmos nos libertemos da escravidão.2
Neste ensinamento, Jesus compara a Sua vinda – a vinda do Filho do Homem no Juízo Final – ao regresso de um senhor que volta de um banquete de casamento. Ao recorrer à imagem do banquete nupcial, Jesus associa a vigilância dos servos à expectativa do Reino de Deus, frequentemente apresentado como uma festa de núpcias. Esta simbologia percorre toda a Sagrada Escritura: desde o Antigo Testamento, onde Deus se revela como o Esposo e Israel como a esposa, até ao Novo Testamento, onde essa aliança se consuma de forma definitiva na união entre Cristo e a Igreja (Ef 5:25-32).
Por outro lado, a mesa onde o Senhor serve os seus servos remete-nos para a mesa eucarística, onde Cristo Se dá como alimento. Neste contexto, Jesus antecipa não apenas a sua vinda gloriosa, mas também o mistério da Eucaristia: é Ele quem nos serve à mesa, oferecendo-Se em alimento.
Assim, o sentido principal da parábola é claro: o discípulo de Cristo deve viver sempre desperto, atento e preparado para a vinda do Filho do Homem. Nas entrelinhas, porém, Jesus revela também o seu próprio coração: o de um Senhor que se faz servo, Esposo que convida à mesa, Mestre que lava os pés, Deus que se dá.
Jesus apresenta uma segunda parábola, mais intensa, mais inquietante: agora o Filho do Homem é comparado a um ladrão que vem durante a noite. A vigilância, antes associada à espera amorosa, assume aqui tons de urgência e sobressalto. “Se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não teria deixado arrombar a sua casa.” A vinda do Senhor será inesperada – e isso exige uma atenção que não adormece, uma prontidão que não se ilude com cálculos ou previsões humanas.
O próprio Jesus insiste noutros Evangelhos que “ninguém sabe o dia nem a hora” (Mt 24:36; Mc 13:32). O Catecismo da Igreja Católica, ecoando esta verdade, afirma: “Desde a Ascensão, a vinda de Cristo na glória é iminente, ainda que não nos caiba ‘conhecer os tempos e os momentos’”3. Esta ignorância sobre o momento da vinda do Senhor não é um acaso: é pedagógica. Preserva a liberdade e purifica o coração da tentação do cálculo, da prudência e sagacidade humana, para que nos concentrarmos no essencial: estar prontos, com tudo o que isso implica, para receber e estar com Jesus quando Ele vier, seja lá quando for.
Então Pedro, sendo Pedro, perplexo, pergunta se aquelas palavras se destinam apenas aos discípulos mais próximos. Jesus, na sua pedagogia muito própria, responde-lhe com outra pergunta: “Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor estabelecerá à frente da sua casa?” Aqui, a figura do administrador remete-nos directamente para Pedro, que receberá as chaves do Reino dos Céus (Mt 16:19). O profeta Isaías refere que na casa real de David havia uma figura chamada “al bayit”, que significa literalmente “o que está sobre a casa”, i.e., chefe da casa real, ou administrador principal do reino (Is 22:15-22). Logo a seguir ao rei, era este que tinha autoridade real: podia amarrar e soltar – e possuía as chaves do reino. Bento XVI sublinhou este paralelo entre o texto de Isaías e a missão petrina, afirmando que a chave concedida a Pedro representa “a autoridade sobre a casa de David” e ainda que a Pedro “como fiel administrador da mensagem de Cristo, compete-lhe abrir a porta do Reino dos Céus e decidir se alguém será aí acolhido ou rejeitado”.4
Segue-se, então, uma parábola em que Jesus descreve dois tipos de servos e os seus destinos, conforme a fidelidade à missão recebida. O primeiro servo – vigilante e fiel – é colocado a dirigir todos os bens do senhor. O segundo, que abusa da demora aparente e maltrata os outros, é severa e definitivamente punido. Jesus, porém, vai mais longe e introduz dois outros servos: um que conhecia a vontade do senhor e não a cumpriu – e será castigado com muitos açoites; e outro que não a conhecia, mas que também errou — e receberá poucos açoites. Esta graduação de responsabilidade e de castigo é profundamente reveladora. Indica que há graus de culpa e, portanto, diferentes consequências escatológicas. Estes dois últimos servos são punidos, no entanto, com uns açoites, uma pena temporária.
Assim sendo, os Padres da Igreja viram aqui, de forma velada, uma referência ao Purgatório. São Gregório Magno, por exemplo, escreve: “Alguns pecados menores são purificados por um fogo purificador antes do juízo final” 5.
O Catecismo afirma, em continuidade: “A Igreja chama Purgatório à purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados” 6. E o Papa Bento XVI recordou: “Este é o purgatório, um fogo interior. (…) caminho de purificação da alma, rumo à plena comunhão com Deus, a partir da própria experiência de profunda dor pelos pecados cometidos, em relação ao amor infinito de Deus” 7.
Há quem pergunte onde está a doutrina do Purgatório na Sagrada Escritura. No entanto, a ausência da palavra “Purgatório” nos textos bíblicos não anula a existência dessa realidade espiritual, que é licitamente inferida de várias passagens. Por exemplo, no segundo livro de Macabeus (2 Mac 12:42), reza-se pelos mortos em batalha “para implorar perdão completo dos pecados”. S. Paulo fala, também, sobre a pessoa ser testada pelo fogo após a morte (1 Cor 3:11-15). Esta parábola de Jesus, em Lucas 12, dá-nos uma das bases mais claras na Escritura para a ideia de que o Céu e o Inferno não são as únicas opções escatológicas após o julgamento.
Ora, compreendemos, então, como esta parábola nos alerta para o perigo do descuido e nos revela que o amor exige vigilância, responsabilidade e fidelidade. O Reino não é apenas herança: é também missão. De facto, a parábola não fala apenas do juízo, mas também do tempo da Igreja, i.e., do agora de cada homem, em que alguns são chamados a ser administradores – como Pedro – e em que todos somos chamados a viver com o coração desperto, atento, e fora do alcance do ladrão e da traça.
A pedagogia do Senhor é clara: a Sua vinda será súbita, mas não arbitrária. Ela revelará o que somos e como vivemos. Cada servo será julgado segundo o grau de conhecimento e de liberdade que teve. A justiça de Deus não é cega nem impiedosa, mas profundamente pessoal, verdadeira e cheia de misericórdia.
Lucas 12 une a preparação para a segunda vinda de Cristo com a prática da esmola, destacando a sua profunda conexão no contexto bíblico. No judaísmo antigo e no Antigo Testamento, dar aos pobres era visto como um sacrifício, um acto de expiação dos pecados e libertação da morte. Textos como Eclesiástico 29:12 e Tobias 4:7-11 reforçam essa ideia, apresentando a esmola como um meio de purificação e acumulação de tesouros celestiais. Jesus associa, igualmente, a esmola ao processo de purificação espiritual, como vemos em Lucas 11:41: “Antes, dai esmola do que possuís, e para vós tudo ficará limpo.” Tal ensinamento ressoa forte com a tradição do Antigo Testamento, onde fazer caridade aos necessitados correspondia a uma forma concreta de expiar os pecados. Assim, a esmola, a misericórdia como vimos no início, não é apenas um gesto de generosidade, mas uma prática espiritual que prepara o indivíduo para o reino de Deus.
Por sua vez, a leitura do Antigo Testamento deste Domingo (Livro da Sabedoria 18:6-9) é assaz curta:
“A noite em que foram mortos os primogénitos do Egipto foi dada previamente a conhecer aos nossos antepassados, para que, sabendo com certeza a que juramentos tinham dado crédito, ficassem cheios de coragem. Ela foi esperada pelo vosso povo, como salvação dos justos e perdição dos ímpios, pois da mesma forma que castigastes os adversários, nos cobristes de glória, chamando-nos para Vós. Por isso os piedosos filhos dos justos ofereciam sacrifícios em segredo e de comum acordo estabeleceram esta lei divina: que os justos seriam solidários nos bens e nos perigos; e começaram a cantar os hinos de seus antepassados.”
Esta é uma leitura que nos oferece uma belíssima e densa evocação da noite da Páscoa judaica, um resumo da libertação do Egipto, conforme narrada no livro do Êxodo 12. Nessa noite, a décima praga – a morte dos primogénitos – trouxe finalmente a libertação aos israelitas, após Deus os ter advertido e instruído quanto à preparação necessária. Como sabemos, para escapar ao anjo da morte, era necessário oferecer o sacrifício do cordeiro pascal e marcar com o seu sangue as ombreiras e os batentes das portas. Esse gesto de fé e obediência assegurava que o anjo da morte passasse adiante, poupando os primogénitos das casas marcadas em Israel.
Ora, que é que esta leitura tem que ver com o Evangelho? Para o compreendermos, é necessário olharmos com os olhos de um judeu do século I. A crença judaica da época era que o Messias viria na noite de Páscoa, ou seja, na mesma noite que fora sinal de libertação do povo de Israel no passado. Neste sentido, quando Jesus exorta os discípulos a estarem vigilantes, com os rins cingidos e as lâmpadas acesas, está deste modo a remeter directamente para essa noite de expectativa e prontidão. No livro do Êxodo 12, Deus ordena ao povo que coma o cordeiro pascal com os rins cingidos, prontos para a partida rumo à liberdade. Do mesmo modo, Jesus convida os seus seguidores a viverem, de “rins cingidos”, numa constante atitude de vigilância e preparação para a vinda do Filho do Homem.
A noite pascal e os seus ritos antigos tornam-se, assim, imagem da espera escatológica e da vigilância cristã. Aqueles que creem e esperam no Senhor são chamados a manter-se prontos, como outrora os israelitas no Egipto, atentos ao sinal da libertação.
Assim sendo, tanto a leitura do Antigo Testamento como a do Evangelho nos recordam a preparação e prontidão necessárias para a libertação e salvação que Deus trará.
O salmo responsorial (Salmo 32) aprofunda esta ligação clamando “o Senhor liberta as almas da morte”, precisamente como fez com os israelitas que confiaram na sua palavra e seguiram fielmente as suas instruções. Também hoje, os discípulos de Cristo são chamados à mesma confiança, à mesma prontidão.
Por último, note-se, ainda, como quanto aos “sacrifícios” de que fala a leitura do livro da Sabedoria, podemos reconhecer uma referência ao sacrifício eucarístico, memorial da Última Ceia, da nova Páscoa, em que Cristo, o verdadeiro Cordeiro, se oferece pela salvação do mundo. De facto, participar no Santo Sacrifício da Missa é, para o cristão, uma forma de manter a alma desperta e cingida, esperando vigilantemente pela vinda do Senhor.
1 Catecismo da Igreja Católica (CIC) 2849
2 S. Gregório de Nissa, Oratio Catechetica Magna, Capítulo 15
3 CIC 673
4 Papa Bento XVI, Homilia, 29 de Junho de 2012
5 S. Gregório Magno, Dialogorum, IV, 39
6 CIC 1031
7 Papa Bento XVI, Audiência Geral, 12 de Janeiro de 2011